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Às vezes, a genialidade emerge nos momentos mais inesperados. O ano era 1999, e o Brasil e a Argentina estavam prestes a travar mais um emocionante duelo no campo de futebol. Naquela noite, uma observação casual de Galvão Bueno desencadearia uma revolução no esporte mais popular do mundo. "Quero ver o cidadão que vai manter a barreira no lugar!", exclamou o famoso locutor esportivo ao ver os jogadores alinhados antes de uma cobrança de falta.
Enquanto muitos apenas se perguntavam sobre a logística de manter os jogadores na distância regulamentar da bola, um publicitário e designer mineiro chamado Heine Allemagne decidiu agir. Em um momento de inspiração, ele pegou um pouco de creme de barbear e traçou uma linha branca no gramado. Nascia ali, sem pompa, o conceito da marca branca, uma inovação destinada a coibir a malandragem dos jogadores nas cobranças de falta, mantendo-os a 9,15 metros da bola.
A ideia, inicialmente simples, logo chamou a atenção da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e, mais tarde, da FIFA. A CBF adotou oficialmente a marca branca em 2002, e a inovação se espalhou para competições internacionais, incluindo a Copa do Mundo de 2014. Antes do uso da marca branca, as cobranças de falta podiam levar de um minuto a um minuto e cinquenta segundos; agora, com a ajuda da linha, a média caiu para quarenta segundos a um minuto por falta cobrada, eliminando a trapaça dos jogadores.
Inicialmente, a FIFA prometeu adquirir a patente de Allemagne por 40 milhões de dólares, mas depois reduziu a oferta para meros 500 mil dólares, o que o inventor considerou humilhante. A disputa acabou nos tribunais, e em 2021, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro condenou a FIFA por má-fé negocial.
O grande ponto a ser destacado nesta história é a importância fundamental do registro de patentes. A patente concedida a Heine Allemagne pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2010 desempenhou um papel crucial em proteger sua inovação. O registro de patente garantiu que a invenção de Allemagne fosse devidamente reconhecida como sua criação e lhe concedeu os direitos exclusivos sobre o uso e a comercialização da marca branca.
Mas a batalha pela patente ainda não terminou. O INPI recentemente reverteu sua posição, alegando "supostas irregularidades técnicas na descrição da patente do spray". No entanto, um parecer técnico nomeado pela justiça reafirmou a validade da patente de Allemagne, destacando a "atividade inventiva" presente na inovação.
A patente já expirou e caiu em domínio público, mas a Fifa tenta anulá-la, para evitar pagar pelo tempo que usou o spray e esvaziar o objeto da ação em que foi condenada em 2021. Afinal, se não houver patente, não há o que indenizar. A batalha promete se arrastar por mais tempo e a única certeza é que a inovação de Heine Allemagne continua sendo uma parte valiosa do esporte.
Esta saga não é apenas uma história de inventividade, mas também destaca a importância crucial do registro de patente para proteger e valorizar as inovações. O Brasil, que já foi um líder na inovação, agora luta para se destacar no cenário global, ocupando a 54ª posição no Índice Global de Inovação. Esperamos que histórias como a de Heine Allemagne continuem a inspirar e impulsionar a inovação no Brasil, com um foco renovado na proteção das criações de mentes brilhantes.
Fonte:
Veja