Brasil em último lugar no ranking de competitividade industrial: o retrato de um atraso estrutural
O novo ranking de competitividade industrial divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) expõe, com números e critérios objetivos, a fragilidade do Brasil frente aos principais concorrentes globais. Entre 18 países avaliados, o Brasil aparece na última posição, atrás de economias como Argentina, Peru, Turquia e Colômbia.
O estudo considera oito dimensões que impactam diretamente o desempenho industrial. Em nenhuma delas o Brasil ficou na metade superior do ranking. A avaliação abrange países com estrutura produtiva semelhante e presença nos mesmos mercados — o que reforça ainda mais a gravidade dos resultados.
Os principais entraves
Três fatores foram especialmente determinantes para a posição do Brasil:
- Ambiente Econômico: O custo elevado de financiamento, influenciado por taxas de juros persistentemente altas, limita a capacidade de investimento das empresas. A complexidade tributária também contribui para a ineficiência operacional e desincentiva a produção local.
- Educação: A formação educacional ainda está desalinhada com as demandas de uma economia industrial moderna. A baixa oferta de ensino técnico e a escassez de profissionais em áreas estratégicas como ciência, tecnologia e engenharia restringem a inovação e a produtividade.
- Desenvolvimento Humano e Trabalho: Relações trabalhistas pouco flexíveis, baixa inclusão social e deficiências em saúde e segurança no trabalho reduzem a eficiência do mercado e comprometem o ambiente organizacional das indústrias.
Os desafios estruturais persistem
Mesmo em dimensões tradicionalmente associadas a vantagens comparativas do Brasil, como recursos naturais, o país teve desempenho modesto: 12ª posição em “Baixo Carbono e Recursos Naturais”. A exceção foi o subfator de descarbonização, no qual o Brasil ocupou o 2º lugar, refletindo o peso da matriz energética limpa. Mas a baixa performance em economia circular revela que mesmo nesses setores há espaços importantes para avanços.
Outros gargalos conhecidos continuam impactando a competitividade: infraestrutura precária, baixa integração ao comércio internacional, limitada capacidade de exportação em segmentos de média e alta tecnologia, e um ecossistema de inovação que, apesar de bons ativos institucionais, ainda carece de escala e articulação.
Política industrial é um passo — não uma solução
O lançamento da Nova Indústria Brasil (NIB) representa um esforço recente para reverter esse quadro. Com um volume expressivo de crédito previsto até 2026, o plano busca estimular inovação, capacitação e transição ecológica. No entanto, políticas industriais só geram efeito quando integradas a um ambiente macroeconômico estável, a um sistema educacional eficiente e a uma estrutura tributária racional.
Mais do que uma política de governo, é preciso construir uma política de Estado — contínua, avaliada por resultados e blindada contra descontinuidades administrativas.
Competitividade é construção de longo prazo
Os dados da CNI deixam claro que o problema brasileiro é menos conjuntural e mais estrutural. A indústria nacional opera, há décadas, em desvantagem competitiva frente aos pares globais. A superação desse quadro exige não apenas investimento, mas principalmente coerência institucional e planejamento estratégico de longo prazo.
A janela de oportunidade aberta pela reconfiguração das cadeias globais — intensificada por disputas comerciais e mudanças geopolíticas — não será aproveitada se o país continuar insistindo em improvisos. Enquanto as demais economias se especializam e escalam sua produtividade, o Brasil precisa correr para, ao menos, se tornar competitivo.
Fonte: Estadão